A Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental 2022 visa reavaliar o risco de extinção das populações de aves que utilizam de forma regular este território português e identificar as populações ameaçadas, atualizando a secção correspondente que integra o anterior Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, que data de 2005 (Cabral et al. 2005).

Decorridas quase duas décadas desde a última avaliação e tendo evoluído a situação das populações de aves e também o conhecimento disponível, era urgente proceder a essa atualização, de modo a garantir uma avaliação mais atualizada da condição real das populações de aves presentes no nosso território.

Neste intervalo de tempo houve profundas transformações da paisagem e no funcionamento dos ecossistemas em Portugal Continental. Entre outros aspetos, o incremento de infraestruturas (nomeadamente as associadas à produção, transporte e distribuição de energia e ao armazenamento de água), as alterações do uso agrícola (como sejam a especialização da produção, com expansão de culturas agrícolas permanentes, a conversão de sequeiro em regadio ou o abandono do pastoreio extensivo), os incêndios florestais e a intensificação da utilização turística, têm vindo a introduzir grandes alterações nos habitats.

Por outro lado, aumentou o volume e qualidade da informação disponível, sendo que desde a anterior avaliação houve um aumento do número de ornitólogos e observadores de aves e uma melhoria na qualidade e precisão da informação de monitorização das populações de aves.

Esta revisão exigiu a compilação e análise da informação entretanto obtida, e só foi possível com o trabalho prévio e fundamental de dezenas de peritos de campo.

Para esta tarefa pretendeu-se uma utilização rigorosa do melhor conhecimento científico disponível de forma a garantir que esta lista constitua uma sólida ferramenta técnica ao serviço da conservação da avifauna. A avaliação desenvolvida seguiu os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e as respetivas orientações para a sua aplicação a nível regional, já adotados na avaliação anterior, numa abordagem que permite assegurar objetividade na classificação atribuída e que possibilita uma comparação das avaliações obtidas nos dois momentos.

É de salientar que esta lista verterá para o Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados, previsto no regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade estabelecido pelo Decreto-Lei nº 242/2015, assegurando assim enquadramento legal para uma mais eficaz proteção das aves selvagens.

Note-se, no entanto, que o resultado destas avaliações apenas traduz o risco de extinção que a população em causa enfrenta no nosso território. Esse conhecimento é um passo prévio fundamental para o estabelecimento de prioridades para a conservação da avifauna portuguesa, para cuja determinação outros pilares decisivos - como a situação à escala global ou da região europeia e a proporção que representa da população mundial - devem concorrer. Assim, a primazia em termos de alocação de recursos e esforços não é aqui abordada. Pretende-se, contudo, que esta lista contribua para atenuar ou reverter as ameaças identificadas e concorra para delinear as medidas de conservação necessárias para assegurar que o risco de extinção da nossa avifauna diminua consideravelmente nas próximas décadas.